E não é que outro dia estava eu descansado em casa a ver televisão e assim que mudo de canal me aparece à frente o Karaté Kid!
Imediatamente administrei a mim mesmo duas caixas de ansiolíticos e comecei a bater com a cabeça na parede até começar a adquirir alguma imunidade à dor; devo dizer que a dor nunca passou, mas curiosamente a partir de certa altura passei a encarar toda aquela situação com extrema tranquilidade. Não que em criança nunca tenha visto o filme, ou que não tenha gostado, muito pelo contrário, devo-o ter visto uma série de vezes e até exerceu relativa influência na minha juventude, mas agora basta! Karaté Kid é aquele tipo de filme lamechas nunca antes visto “Rapaz psicologicamente abalado, muda de cidade, conhece vizinho idoso que por acaso é mestre de artes marciais, parte a cara a quem se mete com ele e fica com a gaja no fim”… Ah! É verdade, e todos os que se metem com ele são também especialistas em artes marciais naquilo que aparenta ser uma epidemia contagiosa de Karaté.
O problema era que eu, como qualquer outro rapazinho influenciável, acreditava que poderia aprender alguma coisa com o filme e após afincado treino e algumas nódoas negras, era ver-me no recreio da escola à espera que alguém se metesse comigo para que lhe pudesse aplicar o golpe da garça nas trombas. Mas se o meu momento nunca chegou, já outros, tiveram a sua oportunidade, e pelo que pude presenciar, a única coisa que ganharam com isso, foi um ou outro osso fracturado e uma cara tão inchada que mais parecia terem sido picados por uma abelha assassina africana com duzentos quilos. Foi nessa altura que pensei “Hum!... Se calhar o filme não retrata a realidade... se calhar um pau de virar tripas que parece uma cruzeta com pernas, não consegue arrear nos gajos todos e ainda ficar com a gaja no fim!” … Apercebi-me mais tarde que a isso se chama ficção… a isso e a gajas que preferem gajos introvertidos e sentimentalistas. Antes de terminar, gostaria de deixar uma palavra de apreço para o Mr. Miyagi, que para quem não se lembra, era o velhote com múltiplas artroses que quando era chamado a intervir, deitava abaixo sozinho um grupo de sete ou oito marmelos com o dobro do tamanho dele, usando apenas um braço e a agilidade própria dos seus duzentos e sessenta anos de idade, tendo ainda tempo pelo meio para podar dois bonsais e comer uma tigela de arroz integral.
Advertência: o texto acima postado é puramente ficcional, não devendo portanto ninguém tentar em casa nenhuma das proezas acima mencionadas… principalmente na minha, o que a acontecer me poderia trazer ligeiros problemas com as autoridades.