Recordo-me com relativa saudade do tempo em que para lidar com fantasmas, podíamos sempre contar com um grupo de quatro marretas, que com umas armas especiais de feixes de protões ou lá o que era, davam cabo do canastro a qualquer alma penada que nos viesse incomodar. Pelos vistos eram tempos em que, à excepção do conhecido fantasminha verde chamado “Viscoso”, todos os outros fantasmas tinham como intuito principal, fazer o mal à humanidade em geral. Ora, o tempo passa, e a maneira de lidar com estes assuntos também; se primeiro foram os animais a terem direito a psicólogos, (por falar nisso, precisava que algum fosse a minha casa, porque tenho uma aranha a morar no meu quarto à duas semanas, e apesar das conversas que tenho tido com ela, não aparenta querer ir embora, o que me vai obrigar em último recurso, a tentar persuadi-la com um banho de chuveiro de Raid Casa e Plantas) agora também os fantasmas têm problemas do foro psicológico, problemas esses que são agora resolvidos numa série televisiva, por uma gaja que consegue ver e ouvir almas penadas e não descansa enquanto não as ajudar. Antes de mais, salientar o facto de que uma pessoa que passa o dia inteiro atrás de fantasmas, a fazer figura de maluca, e sem receber um tostão por isso, consegue no final do dia pegar no seu belo carro e ir para a sua bela vivenda descansar. Depois, chamar a atenção para o respeito e discrição que a maioria dos fantasmas aparenta ter, pois quando lhe aparecem, nunca apanham a gaja a tomar banho, a ler uma revista na retrete, ou em avançada galhofa com o companheiro; parece-me que devem estar à espera que ela acabe, para depois aparecer e dizer… “Olhe, desculpe…”. No final, tudo se resolve, pois lá vai ela bater à porta da pessoa com quem o fantasma tem algum assunto pendente e acontece uma conversa deste tipo:
Mulher do Fantasma – Quem é?
Gaja – A senhora não me conhece, mas eu consigo falar com o seu marido e tenho uma mensagem dele para lhe transmitir.
M.F. – Desculpe mas deve estar a brincar comigo. Vá embora antes que eu chame a polícia.Fantasma – Diga à minha mulher que na nossa noite de núpcias, fizemos marotices quase três vezes seguidas.
A gaja diz-lhe e a mulher deixa-a entrar.
Gaja – Olhe, o seu marido não consegue deixar este mundo, enquanto não lhe disser que quando morreu, deixou uma torneira aberta cá em casa. E toda a gente sabe que o preço da água está pela hora da morte.
M.F. – Muito obrigado, vou já verificar todas as torneiras da casa. Realmente nos últimos cinco anos, tenho recebido contas escandalosas de água mas nunca me tinha apercebido porquê. Já agora, o meu marido não me quer dizer mais nada para além disso?
Gaja – Sim. Também se está a queixar de um ardor nos sovacos, mas não se preocupe que ao irmos embora, passo com ele na farmácia e compro-lhe um desodorizante sem álcool para acalmar a irritação.
M.F. – Rais’parta o homem que desde novo sempre teve problemas na sovaqueira. Ok, então até à próxima.
E lá vai o fantasma todo contente passar para o outro lado.